Como falamos no artigo anterior (a nova visão), a fáscia desvendada mostra o conceito de integração dos sistemas. Um dos princípios mais amplamente discutidos é o princípio de tensegridade. Tensegridade em seu conceito é:
“Em mecânica e em biomecânica, tensegridade ou integridade tensional é uma propriedade presente em objetos cujos componentes usam a tracção e a compressão de forma combinada, de forma a proporcionar-lhes estabilidade e resistência.”
Wikipedia
Quando falamos em fáscia, adicionamos o termo bio- que é para contextualizar o mesmo princípio mas em organismos vivos, no nosso caso, o corpo humano. Falamos antes sobre a visão unidirecional, mecanicista, onde a dor do joelho, referia-se somente ao joelho. Dentro do princípio de biotensegridade da fáscia, é como se a dor pudesse ter relação com todo o corpo, pensando na fáscia como uma rede estrutural que afeta o organismo corpo humano como um todo.
Como pensávamos antigamente que precisaríamos trabalhar músculos específicos, o conceito de tensegridade, traz uma nova visão sobre a cinesiologia (o estudo do movimento humano), tirando a “culpa”do músculo e mostrando que as coisas são mais complexas do que imaginamos. Além dessa integração completa das estruturas que é derivada do tecido embrionário (já explico isso mais a frente) entendemos hoje que o cérebro não executa movimento pensando em músculos, mas em tarefas a serem cumpridas.
Claro, podemos treinar musculaturas específicas e falando em esporte, é necessário que pensemos assim, no entanto não se pode hoje treinar somente os músculos, mas treinar os nossos sistemas como um todo, sistema músculo-esquelético, sistema cardiovascular, sistema neural e também o sistema fascial.
A continuidade da fáscia em sua biologia nos faz pensar de uma forma mais ampla, global e principalmente individual. Individual porque cada ser humano tem uma história de movimento que vai afetar essa rede tensional, seja pelo histórico de ficar muito tempo sentado, muito tempo em pé, seja por carregar as sacolas do supermercado sempre no mesmo braço, colocar a bolsa sobre o mesmo ombro, segurar seu filho de um lado só… Todos esses comportamentos afetam a biotensegridade desse órgão complexo e é natural que quando a pessoa vá realizar um esporte, principalmente os que movem os dois lados do corpo de forma igual, como na musculação, o corpo reaja de uma forma diferente, daí vemos os machucados de um ombro só, ou de um quadril só. Isso ocorre pois não necessariamente o esporte gerou a sobrecarga, mas essa sobrecarga já vem acontecendo há muito tempo.
E agora, o que fazer?
Bom, é possível investigar esses tensionamentos na rede fascial através da terapia manual e um fisioterapeuta com experiência, sem dúvidas pode ajudar mais. Mesmo assim, investigar os tensionamentos e tratá-los não pode garantir que a disfunção se dissolva ou que a dor vá embora, existem muitos mecanismos envolvidos. Minha proposta no meu trabalho é justamente ir organizando um sistema de cada vez pra que tentemos saber exatamente o que está acontecendo no corpo do indivíduo.
Essa avaliação é complexa pois entendemos que várias coisas podem influenciar na saúde da fáscia e nos tensionamentos gerados, como falamos anteriormente os movimento que repetimos diariamente de forma inconsciente é uma delas, mas pra além disso, os nossos hábitos de vida podem interferir diretamente nesse tecido, como: alimentação, qualidade de sono, tipo de exercício e regularidade e nossa saúde mental. Portanto, seria muita pretensão do terapeuta afirmar com veemência causas e propostas de resolução de problemas quando falamos de corpo humano.
